quinta-feira, 29 de outubro de 2015

domingo, 25 de outubro de 2015

Cada um dos Silêncios

Cada um dos silêncios fere o tempo.
O solitário segundo que passa
É uma punhalada ou açoitamento
Que, penitente, procurando a graça

Do seu sorriso, do seu negro olhar,
Inflijo a mim mesmo, em vão desespero.
Tuas palavras são como ondas do mar -
Lavam minha alma, corrigem o erro,

E carregam, tal qual à folha o vento,
Para longe de mim a solidão;
Mas por mais que tente, e acredite, eu tento,
Não consigo sobrepujar - perdão! -

Minha incerteza e meu medo de errar.
E nesse impasse de dor e temor
Permaneço, temendo abjurar
De mim mesmo a vida e do amor o amor.

Cada um dos silêncios fere o tempo
Do seu sorriso, do seu negro olhar,
E carregam, tal qual à folha o vento,
Minha incerteza e meu medo de errar.



25/10/2011

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Movimentar-se

Fazer poesia é movimentar-se,
necessariamente.

O incessante, eterno e perene
movimento das palavras,
dos temas, das idéias.
As torrentes de pensamento,
as cascatas de sentimentos,
a música das coisas comuns,
o doce som do dia-a-dia:

tudo isso só pode ser percebido
em função do tempo, em movimento.

O movimento de passar a roupa,
o de cavalgar no pasto, ou o de dançar;
o de bater a cabeça embaixo da escada,
de pular na água de uma pedra alta, ou ainda
aquele movimento espontâneo, acidental
de sorrir.

Mas o princípio fundamental da poesia
é a estática: o retrato do momento,
a fotografia. O poeta é aquele ser
que pára o tempo, que se desprende,
que está além da verdade. Ser poeta
é abandonar a vida, é imergir-se
na essência das coisas, é amar
a idéia, e não a realidade.

Então, só na imensidão do tempo, isolado
do mundo e das alegrias e das dores
é o poeta um tufão metafórico,
que não destrói as casas mas deixa
um rastro de destruição; é um colosso
simbólico, a mirar desafiadoramente
a tempestade no deserto; é a onda azul
numa praia dourada, seca e salgada.

E assim, devagarinho,
tão parado quanto em movimento,
uma a uma o poeta lapida as palavras,
enquanto estrofe por estrofe,
a cada idéia, a cada frase,
as palavras lhe talham
e lentamente lapidam
o poeta.


15/10/2015

domingo, 4 de outubro de 2015

Taxidermia

Fauna distorcida, malograda
a pantera negra descalça
que cruza a estrada com seus filhotes.
Voam os pássaros, em revoada
o elefante torce sua tromba
as galinhas fogem

voltam todos para seus peixes
suas garças, seus micos
suas araras

a involução dos bichos

antropomorfia


19/06/2015